Aproveitando-me da licença poética, gostaria de falar sobre esse livro muito, muito bacana que li há pouco mais de dois anos: Noite passada um disco salvou minha vida, de Alexandre Petillo. Esse livro veio parar em minhas mãos quando trabalhava de auxiliar bibliotecário e tinha que carimbá-lo para que pudesse guardá-lo, posteriormente. Mas quando estava carimbando as páginas eis que tenho uma grata surpresa: encontro a foto do cantor e compositor Léo Jaime e decido parar e ler. Não parei mais. Embora tenha um título digno de super-herói de história em quadrinho, o livro parece ser bem despretensioso, mas à medida que vamos lendo, depoimento por depoimento, vamos vasculhando nossa memória musical através de alguma música do disco citado, ou, pior, tentando lembrar ou descobrir de quem se está falando. Mas recomendo este livro com a mesma e pela mesma justificativa da de Alexandre: “todo mundo tem uma trilha-sonora na cabeça”, e é verdade, sejam boas ou más lembranças. A maioria dos acontecimentos ocorridos conosco tem um fundinho musical. O poeta francês Paul Verlaine escreveu: "De la musique avant toute chose" – a música antes de tudo. Frase absolutamente aceita, principalmente, vinda de um poeta simbolista, mas quando li este livro levei em consideração não o melhor disco que já ouvi, mesmo porque isso hoje em dia está cada vez mais difícil, quer seja pela qualidade musical produzida atualmente, de gosto extremamente duvidoso, quer seja pela facilidade que conseguimos fazer downloads via internet, fazendo coletâneas de músicas. A minha escolha foi baseada no depoimento do próprio Léo Jaime, não que ele tenha me influenciado, mas o seu depoimento foi um primor, esculpido pela alma e escrito com a amargura de só quem já esteve no fundo do poço é capaz de compor um texto tão sintético e profundo, com uma dose catártica expressionista e impressionante. O disco de Léo foi Wings Over America, do Wings, grupo liderado pelo ex-beatle Paul McCartney. O meu foi Let it be... Naked, dos Beatles. Não é o meu preferido, mas é o que me faz parar e ouvir música por música e cada uma delas tem um sentido para mim. E, além de tudo, a última música do disco, a décima primeira, é Let it be, e aí me lembro do filme homônimo em que Paul aparece com um olhar oblíquo, parafraseando Machado de Assis, e Lennon já sem prazer de estar entre os demais ‘besouros’. Se não bastasse isso, essa música sempre que toca minha mãe diz: foi a música mais tocada no dia da morte de John. Bem, são gostos e estes não se discutem. Um amigo meu é fascinado com Wish you were here , do Pink Floyd, pudera, se não é A MÚSICA, chega quase lá. Bom fica a dica, é um livro maravilhoso composto de 70 depoimentos dos mais diversos tipos de pessoas, vai de publicitário a comentarista esportivo de cantor a repórter. Fãs xiitas de música podem até ficar chateados com o livro, adverte o autor, pois o livro não é apenas para fãs de música. A proposta maior do livro é mostrar como determinado disco mexe com determinada pessoa, essa é a idéia, como um mesmo poema é capaz de mexer com um sertanejo em Minas ou com um monge nas Filipinas. “É um livro para todos que gostam de ler. E nem precisam conhecer os discos. Por outro lado, pode ser a porta de entrada para quem não liga para música ficar conhecendo gente muito bacana”, conclui Alexandre Petillo. Há livros que lemos apenas uma vez e jamais o esquecemos e alguns personagens ficam tanto em nossa mente que parecem que se libertam das páginas e ganham vida própria e com determinados discos também são assim; enfeitam nossas vidas, dão mais cor às nossas memórias. Cazuza que me permita, mas terei que terminar com um trecho dele: “Que coincidência é o amor, a nossa música nunca mais tocou...” P. S – E você, qual o disco que não sai da sua cabeça?

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