Sete de setembro

por Escreva Bem on 07/09/2008

Se essa rua se essa rua fosse minha
Eu mandava eu mandava ladrilhar


Definitivamente esse não é um feriado como outro qualquer. É engraçado. Dizem que é o dia da independência, mas todos são dependentes desse feriado. Alguns dormem até tarde, outros têm um dia a mais de folga e os vagabundos (se de uma aparência melhor, leia-se boêmio) usam como argumento dizendo que é feriado mesmo.

Ano após ano repetem as mesmas cenas. Basta por a cara para fora de casa que aquele vento primaveril da manhã gela-nos a face e aí damos conta que é dia da pátria, mas também feriado. Entramos na multidão e, como um córrego que aumenta o volume de um rio, aumentamos o número de pessoas para festejar.

O local, o mesmo de sempre. Em frente à prefeitura que olha cara a cara a Igreja.

Todos saem de suas casas logo cedo, torcendo para não chover, entram na multidão que mais parece gotas de sangues que correm entre as veias (ruas) apertadas, e ainda de terra, dessa pequena cidade do interior que desaguarão no seu coração, bem na praça central da cidade. O desfile está marcado para as oito da manhã em ponto, partindo de frente da Igreja, os badalos do sino não permitem atrasos, embora ecoe as mesmas horas há mais de vinte anos. O prefeito demora no discurso, todos começam a ficar impacientes, mas o sino agora está mudo, não se mexe e o prefeito não se dá conta do passar das horas, assim como também não percebe que a essa altura da vida já deveria era tomar contas de seus netos.

A multidão é um cenário a parte. Vendedores parecem despertar como orquídeas, surgem apenas uma vez por ano, e vendem cata-ventos, que procuram sopros de crianças ou ventos de dias melhores, que por hora servem de mastros para erguer o orgulho de uma pequena cidade de hábitos pacatos.

Nessa hora a cidade parece ser vanguardista, quando o prefeito diz que nosso céu tem mais estrelas e que por aqui, ainda cantam alguns sabiás. Mas quando começo minha marcha de volta à minha casa vejo uma outra cidade. Caminhando por uma avenida vazia, o que vejo são algumas aves carniceiras, que do alto de um poste parecem fazer contagem regressiva para atacar um pobre animal que ainda gasta suas últimas forças agonizando à beira do matagal.

Um bar na esquina da minha rua, apresenta seus freqüentadores, que mais parecem, guardas de uma família real, parecem taciturnos, me olham e cumprimentam a todos, sem mover os lábios, ocupados e com um odor de álcool de dias consecutivos. Mais adiante vejo alguns homens com pedaços de papel na mão, parecem querer escrever algo, mas não sabem ler e esses papéis são suicidas, entorpecem pessoas de perto da casa do prefeito. Entro em casa e pego meu jornal para ler, um pândego, que na véspera bebera até o sol raiar me analisa e dispara: “Isso não faz bem para mente”, olho para ele, lembro do prefeito, paro, abaixo minha cabeça, penso, fecho meu jornal e digo para ele: “Isso não faz bem para a gente”, vamos até ao bar da esquina tomar algo para esquecer dessa cidade e desse país e, se Pasárgada não for muito longe, talvez eu dê um pulo até lá.

P.S – será esse um texto fictício?

2 acharam isso:

Tarcicio Blog disse...

Muito bom! Tocante! Gostei e identifiquei no texto emoções sentidas em tantos Sete de Setembros. Adorei também sua forma de usar as palavras, seu estilo.

Escreva Bem disse...

Valeu cara, na verdade, existem alguns 7 de setembros ai sim, e seguidos e obrigados. Obrigado pelas falas sobre a escrita.