No ano em que se completa 50 anos da Bossa Nova, um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo, esse estilo ainda se mostra muito atual e agradável aos ouvidos de todos os degustadores de uma boa música. A Bossa Nova surgiu como um movimento popular de músicos. No início, o termo era relativo a um novo modo de cantar e tocar samba. A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 30, em “Coisas Nossas”, samba de Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisa...
A palavra 'bossa' era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos 50, significava jeito, maneira, modo. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, dizia-se que esse alguém tinha 'bossa'. Já expressão 'Bossa Nova' surgiu em oposição a tudo o que os jovens achavam superado, arcaico. Alguns críticos musicais destacam a influência da cultura estadunidense do Pós-Guerra, especialmente do jazz. Além disso, havia um inconformismo com o formato musical da época, fato que invariavelmente contribui para o surgimento de gênios.
Diferentes harmonias, poesias mais simples, novos ritmos. Ritmo é batida. Bossa Nova é batida diferente do violão, poesia diferente das letras, cantores diferentes dos mestres. A Bossa Nova seria completamente diferente de tudo, mais intimista, mais refinada, mais alegre, otimista. Diferente. A rigor, ela não é nem um gênero musical. É o tratamento que se dá a uma música, em termos de 'batida' e de ritmo.
Na sua essência, para se tocar o novo estilo era preciso uma mente inspirada e um violão, o instrumento do boêmio irresponsável.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que a mudança radical da poesia na MPB começou com Vinícius de Moraes. A mulher traidora, vulgar, vilã e vagabunda cedeu o lugar à garota bonita cheia de graça, à mulher amada e linda. A mulher rejuvenesceu, deixou de ser vamp. Passou a ser graciosa.
Lúcio Alves, Dick Farney, João Donato, Dolores Duran, são alguns dos nomes que ajudaram a disseminar esse estilo musical. Lúcio Alves nasceu em 1927, aqui mesmo em Cataguases, mas aos sete anos já estava no Rio.
Mas brasileira como a Bossa Nova – mais que isso, Ela é carioca – esse ritmo musical pegou a leveza da música e o cotidiano da fala e os seus vícios de linguagem, também; ou será que as coisas na Bossa Nova passam despercebidas assim?
Polivalente, “coisa” é uma palavra-objeto que encontra as mais diversas serventias no cotidiano, da política à música popular. A natureza das coisas: gramaticalmente, “coisa” pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar, pois um a coisa é uma; outra coisa é outra coisa.
“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça”. A garota de Ipanema era A coisa da praia carioca, eternizada por Tom eVinicius. “Mas se ela voltar, se ela voltar/Que coisa linda/que coisa louca”. “Vou te contar, meus olhos já não podem ver coisas que só o coração pode entender”. Chega de saudade, essas entre outras músicas são bons exemplos das coisas gostosas que a dupla era capaz de compor; aliás a Bossa Nova já nasceu abençoada por Deus. Teve a participação brilhante do maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim - ou simplesmente Tom Jobim. Samba da benção, de Vinícius e Baden Powell, é outra representante das coisinhas da Bossa Nova: “É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe...”
É unanimidade nacional: Tom foi a figura mais importante da música brasileira, em toda a sua história, só comparável a Villa-Lobos. Foi a dupla Tom-Vinícius que universalizou a Bossa Nova. E foi muito criticada por alguns críticos "de mal com a vida", acreditem. A Bossa foi acusada de influência americana, quando, ao contrário, influenciou e contagiou a música de Tio Sam.
E esse vício vem de longe, muito longe. Do latim causa veio o nossa “coisa”. O termo latino original para o espanhol cosa era sinônimo de motivo, assunto, questão, mas o latim vulgar a partir do século IV desenvolveu um segundo significado. Já no século XIII, o termo era grafado como coussa ou cousa, que ainda persiste na boca das gerações mais antigas. O primeiro registro de coisa sem u surge apenas no século XVI, coysa. Ao falar usamos a palavra coisa como uma coisa que substitui todas as palavras. É aquela coisa: se funciona. É bom usar.
P.S - "Fazer samba não é contar piada/ E quem faz samba assim não é de nada/O samba é uma forma de oração", que isso fique bem claro.
0 acharam isso: