Escreva ou au revoir!!!

por Escreva Bem on 09/02/2009

Às duras penas é que vou mantendo esse prazeroso hábito de publicar semanalmente, pelo menos de modo oficial, um texto no Gosto de Ler. Não por desleixo, falta de tempo, nem tampouco assunto, isso é o que mais tenho. Então pensarás tu, arguto leitor, qual a principal causa dessa difícil missão. Não sei bem ao certo, o motivo. Desconfio, eu, é, que, na verdade, pus-me na mesma situação do bom e velho Vinícius de Moraes, longe de mim, querer comparar-me com tal excepcional cronista e mais ainda poeta.

Em uma crônica intitulada “O exercício da crônica”, Vinícius fala do prazer que há em entregar os textos encomendados e bem-pagos aos 47 minutos do segundo tempo, e, o pior, sem o consentimento do árbitro. Defendo-me com a transcrição da referida citação:

“(...)Dias há em que, positivamente, a crônica "não baixa". O cronista levanta-se, senta-se, lava as mãos, levanta-se de novo, chega à janela, dá uma telefonada a um amigo, põe um disco na vitrola, relê crônicas passadas em busca de inspiração - e nada. Ele sabe que o tempo está correndo, que a sua página tem uma hora certa para fechar, que os linotipistas o estão esperando com impaciência, que o diretor do jornal está provavelmente coçando a cabeça e dizendo a seus auxiliares: "É... não há nada a fazer com Fulano..." Aí então é que, se ele é cronista mesmo, ele se pega pela gola e diz: "Vamos, escreve, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre esta cadeira que está aí em tua frente! E que ela seja bem-feita e divirta os leitores!" E o negócio sai de qualquer maneira.
O ideal para um cronista é ter sempre uma os duas crônicas adiantadas. Mas eu conheço muito poucos que o façam. Alguns tentam, quando começam, no afã de dar uma boa impressão ao diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas estará gastando a metade do seu ordenado em mandar sua crônica de táxi - e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo prazer em imaginar o suspiro de alívio e a correria que ela causa, quando, tal uma filha desaparecida, chega de volta à casa paterna.”

Aliado a isso, vem-me à mente o poema de Olavo Bilac, “Profissão de fé”, poema em que Bilac compara o poeta a um ourives, por seu zelo exagerado com o poema.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubi.

Volto à defesa da minha total inaptidão poética, mas é o que mais faço com um texto: torço, aprimoro, alteio, limo etc.

Na verdade, escrever é um dos maiores prazeres que tenho, mas semanalmente, via de regra é complicado, como diriam uns mais espirituosos, inspiração não agenda dia para chegar, tampouco avisa que chegou. Daí essa humilde crônica que não fala sobre nada, pelo contrário fala sobre o nada que andava eu não fazendo.

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